A mudança de estilo de vida é uma das atitudes mais importantes para quem descobre ter hipertensão arterial. A adoção de uma alimentação saudável e da prática de exercícios físicos é imprescindível em todos os casos.
A hipertensão arterial (HA) está associada a um aumento da incidência de mortalidade por doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, doença coronária, insuficiência cardíaca, doença arterial periférica e insuficiência renal.
O tratamento da doença engloba, além da terapia farmacológica, a adoção de hábitos de vida saudáveis, como a prática do exercício físico aeróbio. Este, recebe destaque na literatura como método preventivo e de tratamento da HA.
Os conhecimentos adquiridos nas últimas décadas apontam no sentido de que após a realização de uma única sessão de exercício físico aeróbio, os níveis de pressão arterial (PA) diminuem e permanecem abaixo dos níveis pré-exercício. Ainda, normotensos e hipertensos beneficiam com a prática regular de exercício físico devido às adaptações crónicas do organismo a um trabalho acima dos níveis de repouso.
Consequentemente, o treino físico promove um conjunto de adaptações morfológicas e funcionais que conferem maior capacidade ao organismo para responder ao stress do exercício.
No entanto, para que os efeitos hipotensores do treino físico sejam alcançados, é necessário a consideração de alguns fatores, ou seja, uma padronização quanto à frequência, intensidade e duração das sessões.
Assim, o objetivo deste estudo é apresentar o posicionamento da literatura sobre essas variáveis (frequência, duração e intensidade) da prescrição do exercício físico aeróbio para indivíduos hipertensos.
Frequência semanal
No que diz respeito à frequência semanal de exercícios, alguns autores apontam para que sete sessões por semana sejam a frequência ideal, enquanto para outros, não há benefício adicional em mais do que três sessões semanais. Outros relatam que para ter algum efeito hipotensor, é recomendável uma frequência mínima de três vezes por semana, sendo que frequências maiores produzem maior efeito hipotensor.
Duração do exercício
Alguns autores observaram que em animais espontaneamente hipertensos, o exercício físico com duração de 40 minutos provoca uma diminuição da PA maior e mais prolongada do que o exercício com duração de 20 minutos.
O mesmo foi observado por outros, que demonstraram que uma sessão de exercício físico mais prolongado provoca resposta hipotensora maior que uma sessão de exercício mais curta. Os resultados mostraram que o exercício dinâmico (ciclo ergómetro) com duração de 45 minutos provocou queda pressórica mais acentuada e duradoura que o exercício com duração de 25 minutos. A intensidade utilizada foi de 50% do VOÇ de pico e a velocidade de 60 rpm.
Os autores atribuem esses resultados à vasodilatação provocada pelo exercício físico nas musculaturas ativa e inativa, resultante do acumular de metabólitos musculares provocado pelo exercício (potássio, lactato e adenosina) ou à dissipação do calor produzida pelo exercício físico.
Notas…
-A frequência de exercícios aeróbios deve ser de três ou mais sessões por semana.
– A duração do exercício deve situar-se entre os 30 e 60 minutos.
– A intensidade do exercício deve ser de 50 a 70% do consumo máximo de oxigénio ou FC de reserva para indivíduos sedentários e 60 a 80% de FC de reserva para indivíduos com treino.
Intensidade do exercício
Se por um lado, a duração do exercício determina a magnitude da hipotensão pós o exercício, outros mostraram que o exercício físico realizado em diferentes intensidades (30%, 50% e 70% do consumo máximo de oxigénio), provocam diminuição parecida da tensão arterial (TA). Resultados parecidos foram encontrados ao estudarem, em indivíduos saudáveis, o comportamento da TA no período pós-exercício. Os autores demonstraram que a diminuição na TA era independente da intensidade do exercício, ou seja, o exercício realizado em 30%, 50% e 80% do VOÇ de pico provocou quedas semelhantes na TA.
Apesar destas descobertas, os resultados de alguns estudos mostraram que o treino físico deve ser de baixa intensidade para se alcançar os efeitos hipotensores desejados. No mesmo sentido, afirmam que o treino físico de baixa intensidade causa redução significativa da resistência vascular periférica, determinada por redução da vasoconstrição, melhoria da função endotelial e/ou alterações estruturais da microcirculação.
O American College of Sports Medicine (2004) preconiza que a intensidade do exercício para hipertensos sedentários deve ser de 40% a 60% da capacidade funcional máxima.
Corroboram alguns investigadores ao demonstrarem que, enquanto o treino físico realizado à volta de 50 a 55% do consumo máximo de oxigénio, atenua sobremaneira, a HA, o treino físico de alta intensidade não a modifica significativamente.
Uma equipa estudou 109 indivíduos hipertensos nos estágios I e II que realizaram treino leve durante oito semanas em ginásios. A equipa constatou que houve redução significativa da TA em todos eles, apesar de os indivíduos idosos apresentarem menor redução nos níveis pressóricos do que os indivíduos jovens.
Os exercícios resistidos de baixa intensidade são indicados aos hipertensos em complemento aos exercícios aeróbios, até mesmo devido aos seus benefícios sobre o sistema osteomuscular. A sobrecarga deve ser de 50% a 60% da contração voluntária máxima, e o exercício interrompido quando a velocidade do movimento diminuir (antes da fadiga concêntrica)
Considerações Finais
A prática regular de exercício físico aeróbio provoca adaptações importantes que influenciam significativamente os níveis pressóricos. Assim, caracteriza-se como uma importante conduta não-medicamentosa de prevenção e tratamento da HA.
De acordo com os estudos revistos, para que os efeitos hipotensores do treino físico sejam alcançados, a intensidade do exercício aeróbio deve ser baixa a moderada, realizado com uma frequência de 3 ou mais vezes na semana, e com duração entre 30 e 60 minutos. Ainda, pode-se lançar mão do exercício resistido moderado como complemento ao treino.