Desafiando preconceitos sociais, ideias ditas científicas e o conservadorismo do COI, as mulheres levaram quase um século, desde a criação dos Jogos Olímpicos da modernidade, para se legitimarem como iguais em capacidade aos homens, na luta pela criação da primeira maratona só para elas.
Em 1896, quando os Jogos Olímpicos foram revividos em Atenas, a inventada “prova de maratona” era o evento que encerraria com chave de ouro a competição. A multidão lotava então o Estádio, esperando ver quem seria o homem mais resistente no desafio de correr a distância de 40 quilómetros, a mesma que na conhecida lenda, teria matado Fidípedes.
Entre os concorrentes, não há registro oficial de nenhuma mulher. Contudo, é conhecida a saga da grega Stamatis Rovithi, ao ter partido com os homens, e chegando à entrada do estádio, foi impedida de terminar a prova, na pista olímpica. Contentou-se a fazer a última volta ao redor do Estádio, ainda ressoando efusivamente a vitória do grego Spiridon Louis.
O século seguinte foi de inúmeras conquistas quanto aos direitos das mulheres, possibilitando a diminuição da desigualdade entre os sexos. No entanto, levar-se-ia quase um século para que as mulheres realizassem o desejo de Stamatis Rovithi, e fossem autorizadas a entrar na pista do estádio olímpico numa maratona.
Nos primeiros seis Jogos Olímpicos, foram gradualmente incluídas provas mais longas no atletismo para as mulheres. Contudo, já vigorava no campo científico a tese da periculosidade da corrida de longa distancia para as “frágeis” mulheres. Um incidente na mais longa prova feminina, a dos 800 metros nos Olímpicos de 1928, quando, devido ao forte calor e à falta de preparação da maioria, inúmeras competidoras colapsaram, caindo no chão como numa cena de guerra, daria motivos corroborar tal tese. Os organizadores, num passo de retrocesso, consideraram a corrida extenuante demais para o corpo feminino, e permitiram somente provas até aos 200 metros no seu programa olímpico.
A resistência feminina mantivera-se e ao longo das três próximas décadas, elas continuariam a correr em outros eventos. Algumas até fariam maratonas de forma não oficial.
Mas foi a partir dos anos 60, quando, na sociedade civil, aumentava a luta pela igualdade do direito as mulheres, que as organizações do atletismo passaram a sofrer maior pressão pela inclusão feminina.
O COI – Comité Olímpico Internacional, foi cedendo aos poucos e retomou a prova dos 800 metros em Roma 1960 metros para mulheres. E em 1972, nos jogos em Munique, já colocou no seu programa a prova de 1.500 m. Acima dessa distância, poderia ser fatal para as mulheres, justificava a entidade, apoiando-se nas palavras de alguns investigadores, ainda lançando mão dos credos científicos do início do século.
O caso da maratona de Boston
Um desses investigadores, em entrevista ao principal jornal de Boston em 1965, justificava como acertada a decisão da organização da Maratona de Boston em não aceitar a inscrição de mulheres. Afinal, “estas não eram fisicamente aptas para correrem uma maratona”. Ao ler isso, a americana Roberta Gibb resolveu testar a teoria na prática: preparou-se e em 1966, escondeu-se atrás de um arbusto perto da partida e completou a Maratona de Boston em 3h21m25s. O seu objetivo, disse ela numa entrevista, não era fazer uma declaração feminista, mas sim apenas medir o seu próprio potencial.
Todavia, muitos devem-se lembrar de Kathrine Switzer, que conseguiu burlar o sistema de inscrições de Boston, usando as iniciais do seu nome, como a primeira mulher a completar a prova. No entanto, correram mundo as imagens dela tentando ser impedida pelo diretor da prova e sendo defendida pelo então namorado e seus amigos, que deram uma visibilidade pública ao ocorrido. Essa sim era uma declaração feminista, sobretudo quando disse “Eu acho que é hora de mudar as regras porque elas são arcaicas”, logo depois de completar a prova, tornando-a porta-voz desse movimento a favor da igualdade feminina no campo da corrida de estrada.
Gradualmente, as regras começaram a mudar. Para a IAAF, a americana Elizabeth Bonner, na segunda edição da Maratona de Nova York, em 1971, foi a primeira mulher a correr os 42,195 km abaixo de 3 horas, em 2h55m22s. Em 1972, as mulheres foram autorizadas a competir oficialmente na de Boston, seguindo a tendência posta da primeira Maratona de Nova York, no ano anterior.
Todavia, o processo da inserção feminina ainda tinha os seus receios. Na mesma Maratona de Nova York, em 1972, quando o diretor da prova, o lendário Fred Lebow, fora orientado pelos membros do clube organizador a fazer a partida feminina dez minutos antes, levou ao protesto veemente das seis atletas inscritas, que não concordavam e queriam correr lado a lado com os homens, sem qualquer tipo de vantagem. Elas sentaram-se, esperando a partida masculina, e saíram juntas.
Apesar disso, era inevitável a maciça participação feminina com o boom nos anos 70, inspirado pelas ideias do médico Kenneth Cooper e pelas imagens do norte-americano elegante, saudável e branco, Frank Shorter, ao vencer a maratona olímpica de Munique 1972.
A corrida tornou-se o desporto mais popular durante a década de 70, e mais mulheres começaram a competir em provas de longas distâncias, mesmo sem um rosto para representá-las nos Jogos Olímpicos, como era Frank Shorter para os homens americanos. E mais se questionava o porquê dos Jogos Olímpicos ainda não terem aderido à tendência.
Corridas Avon
Dois eventos ao longo dos anos 70 consolidaram de vez as mulheres como uma procura forte e expressiva no mundo das corridas. Primeiro, a criação do primeiro Campeonato Internacional de Maratona Feminina, em 1973, na cidade de Waldniel, Alemanha Ocidental. Quarenta mulheres de sete países participaram do evento, que continuou a ser realizado a cada dois anos, com aumento expressivo de participantes de todos os continentes.
O segundo, surge da participação ativa de Kathrine Switzer, não a correr mas a usar a sua influência como principal voz a favor das mulheres. Em 1977, agora como diretora da Fundação Desportiva das Mulheres, Switzer foi procurada por um executivo da empresa de cosméticos Avon, cujo interesse era simplesmente patrocinar um evento de corrida para mulheres.
Ela pediu algo maior: uma reunião com todos os executivos da empresa. No final algumas de horas, os executivos saíram encantados com o crescimento nos números, nos tempos e de toda a história de luta das mulheres na corrida, e, principalmente como poderiam crescer nesse nicho de mercado, ainda mais apoiando as ideias colocadas por Kathy Switzer. Ela, por sua vez, saiu da reunião com um novo emprego: diretora do departamento desportivo da empresa e com o patrocínio necessário para investir não numa corrida específica, mas numa série de corridas, pelo mundo fora, exclusivo para as mulheres.
Surgiu assim o Circuito Avon de Corrida, o precursor de todos os eventos exclusivos para mulheres da atualidade. O primeiro evento foi a Maratona Internacional Avon, em março de 1978, na cidade americana de Atlanta. Este circuito foi um tremendo sucesso no final dos anos 70 e ao longo dos 80, espalhando-se por vários países, não apenas como maratona, mas com outras distâncias.
Primeira Sub 2h30m
As mulheres não estavam apenas mais numerosas, mas também mais rápidas. A norueguesa Grete Waitz, nove vezes vencedora da Maratona de Nova York, entre 1978 e 1988, tornou-se na edição de 1979 na primeira sub 2h30 da história das mulheres nos 42 km, cruzando a meta em 2h27m33s. Diante desse facto, até a imprensa se rendeu, sempre muito reticente em relação à participação feminina.
A emblemática reportagem do New York Times, ainda em 1979, apontando o facto de que, em dezasseis anos, o recorde mundial feminino não tinha caído apenas um minuto, como na maratona masculina, mas em mais de uma hora, e utilizando-se das principais conquistas de Grete Waitz – que não era muito ativa em prol do movimento feminista – chegou à conclusão óbvia: não havia motivos para continuar a não haver a maratona olímpica para as mulheres.
As principais entidades do mundo do atletismo foram aceitando e incorporando a pauta da inclusão feminina nas provas. Veio da IAAF o maior desses apoios, particularmente do seu presidente, o ex-atleta holandês Adriaan Paulen, feito publicamente no seu congresso anual, em 1979. Era a maior fonte de pressão para com o impassível Comité Olímpico, pois uma das suas responsabilidades é recomendar novos eventos de atletismo para o COI.
E, sabendo das dificuldades em mudar as mentes do COI de uma só vez, Paulen investiria em incluir cada evento de longa distância gradualmente: primeiro, os 3.000 m, na próxima olimpíada, os 5.000 m e na seguinte, os 10.000 m. E aí adiante até à inclusão da maratona feminina.
Pressão da IAAF
Este planeamento foi modificado quando Paulen assistiu ao Campeonato Mundial da maratona feminina em novembro de 1979, em Tóquio. Ele ficou encantado com o nível das atletas e anunciou ali mesmo o seu lobby pela inclusão dos 3.000 m e da maratona numa só vez.
No seu discurso, o presidente da IAAF afirmava a força e a qualidade das mulheres, as quais terminariam em alto nível quaisquer provas masculinas, assumindo a capacidade das mulheres, com uma gradual e cuidadosa preparação, em participar em eventos com as mesmas distâncias disponíveis aos homens até então.
Não obstante todo o lobby de Adriaan Paulen, anunciando os seus próximos campeonatos mundiais e europeus de atletismo já com a inserção feminina, os membros do COI continuariam a sua política conservadora de protelamento, sobretudo os membros do Leste Europeu, dirigidos pela então União Soviética. E divulgaram, no final de 1979, a necessidade de estudos mais respaldados de instituições consagradas, para a definição do assunto, tendo como horizonte os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.
A resposta da comunidade científica foi imediata e à altura. Dando um ponto final no intermitente debate sobre a saúde da mulher diante de eventos de longa distância, travado desde a década de 60, o principal instituto de investigação de saúde do desporto, o American College of Sports Medicine, emitiu em janeiro de 1980, uma declaração que dizia: “Não existe nenhuma evidência científica ou médica conclusiva indicando que corridas de longa distância sejam contraindicadas para atletas do sexo feminino saudáveis e treinadas.” E concluía, soltando uma verdadeira bomba ao conservadorismo do COI, ao afirmar: “Recomendamos a autorização para as mulheres competirem a nível nacional e internacional nas mesmas distâncias dos homens.” Mais de oitenta anos depois, enfim, o mito da fragilidade da mulher caía por terra.
Má vontade do COI
O Comité Olímpico, após esse duro golpe, reconheceria e incluiria a inserção feminina nas suas provas? Calma, eles não se renderiam assim tão fácil. Tornou-se evidente o mito de uma pretensa preocupação para com as mulheres pelo COI, quando, refutado o seu principal argumento para a não inclusão delas na maratona olímpica, eles não se deram por vencidos e fizeram uma manobra usando o seu próprio regulamento.
Na Carta Olímpica, havia o dispositivo no qual os eventos femininos só poderiam ser incluídos se fossem oficialmente praticados em 25 países em pelo menos dois continentes. Assim, afirmavam estes, não havia procura suficiente para a inclusão. Isso foi novamente refutado: já em 1979, a Maratona Feminina do Circuito Avon, na cidade alemã de Waldiniel, atraiu mais de 250 participantes de 25 nações, ignorado solenemente pelo Comité Olímpico.
Enquanto o Circuito de Corridas Avon garantia uma base popular na participação do desporto, o Comité Internacional de Corredores trabalhava para assegurar um lugar para a elite feminina. E logo, a pressão sobre o COI começava a vir não só dessas entidades e da imprensa, mas também de políticos, como senadores norte-americanos e patrocinadores, como a Nike, anunciando páginas inteiras nas principais revistas americanas e fazendo lobby pelas mulheres na maratona olímpica.
Obviamente, os interesses desses dois últimos grupos iam além de uma genuína e até ingénua vontade de representar tal procura. O sucesso do Campeonato Mundial da IAAF, em 1981, na cidade de Roma, só pressionava a opinião pública frente ao silêncio ensurdecedor dos organizadores olímpicos, que refutavam como podiam, adiando o máximo possível a discussão nas reuniões de seu conselho executivo.
Boicote em 1980
O COI poderia suportar a pressão de políticos, entidades, imprensa e até empresas, mas dificilmente aguentaria a pressão da opinião pública. E no primeiro dia de agosto, enquanto as televisões que não tinham boicotado os Jogos Olímpicos de Moscovo, (1980) transmitiam a maratona masculina, outras tantas apontavam para a terceira maratona Avon, realizada em Londres no mesmo dia e hora da prova olímpica, com a presença de mulheres de 27 países, e onde as cinco primeiras colocadas terminariam abaixo de 2h40m, para espanto do público.
Era mais um tiro certeiro da responsável pela organização do evento, Kathrine Switzer, que proferiria outra frase tão impactante quanto à dita em 1967: “Estamos a tentar provar às pessoas que as mulheres são tão adequadas, ou até mais adequadas, quanto os homens para a maratona.” A repercussão foi gigantesca na imprensa internacional, inclusive entre países que não tinham boicotado os Jogos Olímpicos de 1980, chegando ao ponto da maratona masculina ficar relegada a uma ou duas notas no canto da seção de desportos.
O Comité Olímpico, para abrandar a pressão, marcou para fevereiro de 1981 uma reunião especial do seu conselho executivo, onde oito países iriam votar se a criação da maratona feminina seria levada à reunião geral do COI, em setembro do mesmo ano. Espanha, Japão, Nova Zelândia e Índia desembarcavam em Los Angeles já certas do voto favorável às mulheres. Do outro lado, União Soviética e os seus aliados políticos, Panamá e Roménia, também chegavam convictos, mas contra a proposta. E a delegação da Bélgica estava cheia de dúvidas e incerta quanto ao seu voto. Depois de alguns dias de reunião, foi marcada para o dia 23 de fevereiro a votação final, onde eram necessários cinco votos para a emenda seguir ao congresso geral, na cidade alemã de Baden-Baden, em setembro.
Vitória por 7 a 1
Kathrine Switzer, presente em Los Angeles para acompanhar o desenrolar da reunião e aflita quanto à incerteza belga, não aguentou esperar, e foi ao encontro do delegado geral da Bélgica na manhã do dia da votação. Parou-o no meio do corredor e pediu-lhe alguns minutos. Começou a usar toda a sua retórica a favor da maratona feminina, enquanto o representante fazia algumas notas. No final da conversa, ela agradeceu e ele, mudo, foi para a reunião. Se foi Switzer quem o convenceu, ou mais, se ele convenceu os outros países, não se pode afirmar. Mas, às 18h30 do dia 23 de fevereiro, sete países votaram a favor da criação da maratona feminina, e somente a URSS votou contra.
Já em Baden-Baden, a escolha da sede dos Jogos Olímpicos em 1988 em Seul foi ofuscada pela eleição da primeira mulher para o Comité Olímpico. No entanto, esse momento também ficou em segundo plano por um discurso eloquente e ousado do então campeão olímpico dos 1.500 m, o inglês Sebastian Coe, onde pedia independência às Federações para criar os seus próprios requisitos de elegibilidade olímpica, abrindo caminho para maratonistas e outros atletas receberem prémios e pagamentos, enquanto ainda permaneceriam elegíveis à concorrência olímpica, pedido aprovado pelo COI.
Mas este também foi ofuscado pelos media por uma última deliberação: a da aprovação, em caráter definitivo, da criação da maratona feminina, já autorizada, juntamente com a prova de 3.000 m, para Los Angeles em 1984. Os 5.000 m e os 10.000 m seriam inseridos apenas no programa olímpico dos Jogos na Coreia do Sul.
Podia-se ouvir o suspiro de alívio de todas as mulheres que tinham lutado por esse momento. Finalmente, eles cruzavam a linha de chegada da maior e mais difícil maratona das suas vidas, a do respeito e aceitação quanto às suas capacidades atléticas. Contudo, não podiam descansar muito: tinham menos de dois anos e meio para se preparar para outra maratona. A de facto, disputando os 42,195 km no calor e humidade de Los Angeles. Algures, a grega Stamatis Rovithi, estaria orgulhosa de, enfim, ver o seu desejo realizado: a de uma mulher entrar no Estádio Olímpico, e, aplaudida por todos, cruzar a meta numa maratona olímpica.
A primeira maratona olímpica feminina com Rosa Mota no pódio
No dia 5 de agosto de 1984, foi dada a partida no Estádio Olímpico, o Coliseu Memorial de Los Angeles, para a primeira maratona olímpica feminina da história, contando com 50 atletas de 28 países. Entre elas, o favoritismo estava voltado para a estrela norueguesa Grete Waitz, então campeã mundial e “rainha” da já famosa prova de Nova York. Além dela, a também norueguesa Ingrid Kristiansen, vencedora da Maratona de Londres naquele ano e que, em 1985, viria a bater o recorde mundial (2h21m06s), integrava o grupo das favoritas. Assim como a nossa Rosa Mota.
Apesar de possuir a melhor marca mundial na época (2h22m43s em Boston 1983), a americana Joan Benoit era vista com certo receio por boa parte da imprensa especializada. E mesmo a sua impressionante recuperação de uma lesão séria no joelho, correndo – e vencendo – os trials americanos, no início de 1984, apenas dezassete dias após uma intervenção cirúrgica na região, não convenceram os especialistas, que duvidavam se ela poderia correr no mesmo nível das norueguesas.
A cidade de Los Angeles apresentava no dia da prova, um clima nada propício para as corredoras, com uma média de 32º C e mais de 85% de humidade. Antes da partida, foi feito um desfile com as atletas, apresentadas uma a uma. Por ser o país anfitrião, as atletas dos EUA desfilaram em último lugar, e, respeitando uma ordem decrescente de tamanho, Joan Benoit foi a última a ser apresentada.
Dada a partida, Benoit, incomodada com o pelotão cercando-a, limitando os seus passos (ela inclusive tropeçou), tomou uma decisão radical: destacar-se do pelotão e, como ela disse, fazer a sua prova. Com a exceção do grande maratonista norte-americano Bill Rodgers, agora acompanhando a prova sentado numa moto como comentarista, todos os seus pares consideraram a decisão de Benoit fadada ao fracasso. As atletas favoritas duvidavam da capacidade da americana em correr sozinha por tanto tempo naquele calor, e assim permaneceram sem responder ao ataque, pois logo em breve a alcançariam.
Não aconteceu: Joan Benoit, acostumada a correr sozinha, foi-se distanciando até o momento que Grete Waitz saiu disparada atrás do tempo perdido. Mas já era tarde demais. A americana de 1,57 m, com o seu inesquecível boné branco, voltava à pista Olímpica para a última volta na primeira e folgada posição. Mas só veio a relaxar e a saudar a multidão presente, nos últimos 200 metros, completando a maratona em 2h24m50s (tempo no qual venceria 13 das 25 maratonas olímpicas masculinas da história…).
Grete Waitz conseguiu diminuir a grande diferença de Benoit, e completou em 2h26m18s. E numa prova excecional, Rosa Mota ultrapassaria Ingrid Kristiansen nos últimos quilómetros e completaria o quadro de medalhas, conseguindo o bronze com o tempo de 2h26m57s.
Cena conflituosa
Não obstante o clima adverso, apenas desistiram seis atletas. A suíça Gabriela Andersen-Schiess mudou o estado de ânimo dos público eufórico, pois completamente esgotada (ela deixou de beber água em alguns abastecimentos) e à beira do colapso, demorou seis minutos nos últimos 250 metros, feitos a cambalear. Aos 39 anos na época, seria provavelmente a sua primeira e última participação nuns Jogos Olímpicos e não aceitou a ajuda médica, para não ser desclassificada.
As imagens foram veiculadas por todo mundo ao vivo, chocando espetadores e telespetadores. Antes de, infelizmente, ser usada como material de motivação e superação por corredores e pela imprensa atualmente (esquecendo-se de Joan Benoit, cuja história é ainda mais impressionante quanto à superação), quase destruiu a conquista feminina da maratona olímpica, pois alguns membros do COI elevaram o tom e valendo-se daquela cena, questionaram a capacidade de uma maratona para mulheres, esquecendo-se dos inúmeros colapsos e chegadas no limite da capacidade protagonizados por atletas masculinos. No entanto, levou algum tempo para que o COI considerasse aquele desfecho dramático um facto atípico entre todas as concluintes.