30 de Setembro de 2007 é um dia memorável para Haile Gebrselassie. Foi nesse dia que ele bateu o recorde mundial da maratona com 2h04m26s em Berlim.
Gebreselassie, nascido em 18 de Abril de 1973, foi bicampeão olímpico e tetracampeão mundial dos dez mil metros e estabeleceu 27 recordes mundiais entre distâncias que vão dos três mil metros à maratona.
No dia 10 de Maio de 2015, 25 anos depois de sua primeira prova, Haile Gebrselassie anunciou a saída definitiva do atletismo (em Novembro de 2010 já o tinha anunciado, mas reconsiderou e voltou à competição) durante uma prova de 10 km, em Manchester. Disse então: “retiro-me do atletismo de competição, não da corrida. Não posso parar de correr, é a minha vida.”
Retirado definitivamente, a lenda do desporto etíope viu a sua vida mudar radicalmente desde Berlim. Gebrselassie transformou-se num dos maiores empresários da Etiópia, atuando em ramos como hotelaria, minerais e plantação de café. A sua fortuna está avaliada em 500 milhões de euros.
Os seus negócios são controlados a partir da capital da Etiópia, Addis Abeba. Um dos principais empreendimentos do ex-atleta, está entretanto, a 270 km da capital: um hotel cinco estrelas que tem o seu nome, o Haile Resort. O complexo conta com piscinas, ginásios, campo de golfe, áreas para montar a cavalo e uma pista de atletismo. O local tem ainda a segunda maior discoteca do país.
O etíope tem ainda um cinema, uma imobiliária e obteve a permissão para importar carros da Hyundai para o seu país. Paralelamente, cultiva café numa área de 500 hectares – o produto é exportado posteriormente – e trabalha na extração de ouro.
Com influência em tantos segmentos, a lenda do atletismo emprega mais de mil pessoas. O seu prestígio na Etiópia levou-o a ser conhecido ainda nos tempos em que competia como “o pequeno imperador”, uma referência a Haile Selassie, que governou o país entre 1930 e 1974.
O ex-atleta até pensa seguir os passos do imperador e pretende transformar o rumo da sua nação. Caso confirme o desejo de se candidatar à presidência, já definiu os principais objetivos: “Acabar com a pobreza e melhorar em muito a educação”.
Episódios marcantes da carreira de Gebrselassie:
A revolta de um adversário derrotado
Na final dos 10.000 metros do Mundial de Atletismo Júnior de 1992, em Seul, uma arrancada de Gebrselassie desestabilizou emocionalmente o queniano Josephat Machuka, que liderava a prova até aos instantes finais. Assim que percebeu que havia sido ultrapassado e que já não seria capaz de recuperar a liderança, o adversário deu um soco nas costas do etíope.
“Ele ficou um pouco ofendido porque esteve na minha frente durante 25 voltas e eu só fui ultrapassá-lo nos últimos metros. Mas não me abalei. Algo como aquilo não me iria assustar – não para uma pessoa que veio de onde vim. Aquele soco foi só uma força extra”.
Gebrselassie nasceu numa família de dez filhos. Criança pobre criada no campo, numa herdade de plantação de arroz sem eletricidade nem água corrente, ele corria diariamente 10 km até à sua escola e levava os seus cadernos e livros debaixo do braço direito. O hábito de levar o material escolar junto ao corpo fez com que o corredor, mesmo na fase adulta, seguisse com o braço direito mais próximo ao peito. Essa característica da sua biomecânica, entretanto, nunca foi apontada como um fator que prejudicasse o seu desempenho.
Medalha de ouro em disputa épica
Um dos grandes momentos da carreira de Gebrselassie foi nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Na final dos 10.000 metros, ele derrotou o queniano Paul Tergat numa das disputas mais épicas da história do atletismo. O etíope “correu como nunca”, como afirma nas suas entrevistas, e viu sua explosão ser premiada com uma medalha de ouro.