Nesses atletas, corredores de fundo ou meio-fundo prolongado, a coluna vertebral está sujeita a muita pressão. Apesar de os atletas serem tipicamente melhor preparados, com alguma flexibilidade e maior limiar doloroso, a pressão sobre a coluna pode resultar em lesões, principalmente na região lombar pois anatómica e fisiologicamente, é a região na qual as vértebras recebem maior descarga de peso.
A dor lombar nos fundistas pode resultar de um evento isolado como um traumatismo. Porém, a causa mais frequente refere-se aos microtraumatismos de repetição. As estruturas que habitualmente são as causadoras das lombalgias incluem os discos vertebrais, as articulações, os ligamentos e a musculatura, apenas para citar alguns exemplos.
Os fatores de risco que contribuem para a ocorrência da lombalgia nesses atletas são:
1) Lesão prévia;
2) Amplitude de movimento diminuída;
3) Técnica de treino imprópria;
4) Aumentos abruptos no treino.
As formas mais brandas de lesão são as distensões musculares ou entorses. O seu diagnóstico é de exclusão, afastando assim outras causas anatómicas. São habitualmente resultado de forças excessivas nos extremos dos movimentos. O processo inflamatório pode ser visto como resultado destas e para evitá-las, o bom alongamento e a maleabilidade articular devem ser garantidos no período de treino. O tratamento inclui um breve período de repouso e a reabilitação da musculatura, devolvendo resistência e capacidade elástica por meio de sessões de fisioterapia.
A doença discal degenerativa refere-se ao processo de deterioração do disco vertebral, que é a mais comum observada em praticantes de atividades com descarga de peso excessivo.
O processo degenerativo do disco compreende três etapas e pode culminar com a formação de hérnias que por sua vez, além do quadro de lombalgia, acarreta também a dor associada à compressão de raízes nervosas (dor ciática). O tratamento conservador da hérnia do disco tem bons resultados e envolve períodos de repouso, associado ao fortalecimento da musculatura de sustentação da postura e dos músculos abdominais, sobrecarregando menos as costas.
Mais raramente, nesses atletas encontramos outra causa de dor lombar: a espondilólise – defeito no istmo da vértebra resultante de movimentos repetitivos em extensão do tronco. Essa falta de união das porções anterior e posterior da vértebra, por sua vez, pode levar ao escorregamento vertebral ou espondilolisteses. Habitualmente, essas alterações causam dor somente durante a atividade física, dor esta que tem carácter mecânico, ou seja, melhora com o uso de cintas abdominais ou mesmo, com o fortalecimento da musculatura e estabilização do tronco.
A dor lombar no atleta pode significar, assim, uma variedade de fenómenos desde lesões mais simples até acometimentos mais graves, que necessitem eventualmente de tratamento cirúrgico.
O atleta de endurance deve portanto, reger-se ao segredo de manter um equilíbrio dinâmico: boa flexibilidade, boa condição muscular e equipamento adequado à corrida de longa distância, podendo assim evitar os efeitos dos traumas repetitivos no sistema musculoesquelético.
(Artigo publicado numa edição em papel da Revista Atletismo pela Drª Maria Fernanda Caffaro)