Nas fotos tiradas aos corredores de lado, é possível apreciar o tamanho da passada, a altura das coxas, o tipo de contato dos pés e principalmente, a inclinação (ou ausência dela) da coluna. Muitos não reparam, mas a postura do tronco na corrida pode variar de pessoa para pessoa.
Se fôssemos considerar a aerodinâmica, talvez o ideal seria correr inclinando a coluna para trás, imitando a frente dos carros desportivos, com o objetivo de reduzir a resistência com o ar. No entanto, isso seria impossível, pois cairíamos para trás, logo na primeira impulsão. Portanto, precisamos de considerar o nosso centro de massa, associado e um fator que poucos atentam: a mobilidade da articulação da pele e do quadril.
Quando estas articulações possuem mobilidade normal, permitindo principalmente uma boa extensão e uma boa flexão (as coxas indo para trás e para a frente, respetivamente), a coluna não sofrerá compensações e, consequentemente, o movimento será mais harmónico, com discretas rotações do tronco e movimentos alinhados dos braços.
Por outro lado, quando a articulação do quadril e/ou da pelve estiverem bloqueadas, haverá compensações, em especial na coluna lombar e possivelmente na torácica e na cervical. Como hoje em dia, muitas pessoas trabalham sentadas durante muitas horas, é cada vez mais comum, encontrar dificuldades para a extensão do quadril, fazendo com que a maioria delas force a lombar para compensar a limitação do movimento das coxas para trás.
Neste caso, ao realizarem treinos de velocidade ou educativos que estimulem o aumento da amplitude deste movimento, o ideal seria inclinar a coluna levemente para a frente (poucos graus), ao invés de se esforçar em mantê-la totalmente perpendicular ao chão.
O problema é que em treinos assim, algumas pessoas inclinam a coluna para trás, piorando ainda mais a sobrecarga.
As causas para esta dificuldade em manter o tronco no alinhamento correto são diversas:
- Fraqueza e/ou falta de controle dos músculos abdominais.
- Tentativas erradas de autocorreção e posicionamento do tronco.
- Excesso de preocupação com a postura.
- Falta de consciência corporal.
- Padrão viciado de contrações musculares (aprendizagem errada).
É possível que o principal motivo destas dificuldades numa posição correta, esteja na falta de informação. A postura do tronco na corrida varia poucos graus de pessoa para pessoa, mas é o suficiente para posicionar os músculos com as suas fibras num comprimento ideal, além de gerar movimentos em amplitudes ideais.
Outra variável é a velocidade que a partir de um limite, deve fazer o tronco inclinar-se mais para a frente ou deixá-lo mais ereto. Por último, a inclinação do terreno. Talvez seja mais instintiva a compensação, inclinando para a frente nas subidas e mantendo a postura ereta nas descidas. Jamais inclinada para trás!
Obviamente existem exceções. Há pessoas que se adaptaram muito bem a um padrão, teoricamente/cientificamente anatomicamente/biomecanicamente ineficiente. Ainda assim, correm muito mais rápido e sem dores se comparadas a uma pessoa que apresenta postura perfeita. Mas essas são as exceções.
Por isso, deve evitar-se imitar os outros mas encontrar o ângulo ideal. Sugestão: faça testes no meio dos seus treinos, em velocidades baixas e altas, inclinando discretamente o tronco para a frente ou deixando-o mais ereto. É tão pouco que as pessoas ao redor não notarão, mas quem o fizer, sentirá a diferença.