Quatro atletas portuguesas estiveram em grande destaque no Mundial disputado em Gotemburgo de 1995. Faz agora 25 anos que Manuela Machado, Fernanda Ribeiro e Carla Sacramento conquistaram duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.
No dia 9 de Agosto, Carla Sacramento ganhou uma medalha de bronze nos 1.500 metros. Como recordar é viver, reproduzimos o texto então publicado na edição de Setembro pela Revista Atletismo.
Carla ganha bronze em dia de Fernanda
Com o penúltimo recorde pessoal de entre as 12 finalistas (e o pior tempo de 1995), Carla Sacramento chegou a medalha de bronze, escassas duas horas antes do ouro de Fernanda Ribeiro. E o eco da sua proeza perdeu-se um pouco.
Foi um dia em cheio para Portugal. Manuela Machado fazia anos, quatro dias depois do seu título na maratona. Fernanda Ribeiro ganhou os 10.000 metros e Carla Sacramento foi terceira nos 1.500 metros. Infelizmente para Portugal e para Carla, as duas medalhas calharam no mesmo dia. A de bronze perdeu o impacto que teria merecido…
À partida, Carla Sacramento, com o seu recorde de Portugal de 4.04,10 e o seu tempo deste ano de 4.10,03, era respetivamente, a penúltima e a última de entre as 12 finalistas. Mas, para o prof. Fonseca e Costa, era uma das candidatas a medalhas, nomeadamente à de bronze, já que, a avaliar pelas eliminatórias, a argelina Boulmerka e a inglesa Kelly Holmes apareciam como grandes favoritas. E assim aconteceu.
Foi uma prova feita à medida de Carl Sacramento. O prof. Fonseca e Costa receava que a corrida fosse tática. Foi-o nos primeiros 300 metros. Mas depois, a jamaicana Yvonne Graham passou para a frente e imprimiu um andamento que, sem ser demasiado rápido, já servia as pretensões da atleta portuguesa: 1.07,38 aos 400 m, 2.12,73 aos 800 m, 3.17,68 aos 1.200 m. Boulmerka, a favorita, colocou-se na segunda posição. Carla seguia a meio do pelotão. A uma volta do fim (3.01,32), estavam cinco atletas bem colocadas para iniciar a luta pela vitória. A 200 metros, isolaram-se três, as favoritas Boulmerka e Kelly Holmes e ainda Carla Sacramento na terceira posição. Na reta final, as duas primeiras destacaram-se e Carla manteve (folgadamente – quase um segundo) a terceira posição. No final, melhorava o seu recorde de Portugal de 4.04,10 para 4.03,79. Mas confirmando a ideia de que pode fazer muito melhor.
Depois da medalha de prata no Mundial de Pista Coberta, em Barcelona (por sinal, nenhuma das suas companheiras de pódio, a norte-americana Jacobs e a russa Kremlyova, estiveram em Gotemburgo), uma ainda mais valiosa medalha de bronze ao ar livre. Abrindo perspetivas bem otimistas para Atlanta, dada a margem de progressão de Carla.
Qualificação fácil
Foi fácil a qualificação de Carla Sacramento para a final. As eliminatórias serviram para eliminar apenas seis das 30 concorrentes. Foram três eliminatórias lentas mas, curiosamente, aquela que juntou as que viriam a ser as três medalhadas, a primeira, foi a menos lenta. A atleta portuguesa preferiu correr atrás do pelotão, para evitar encontrões e cotoveladas. A 400 metros da meta, colocou-se melhor e, na reta final, deixou-se ficar num “descansado” quinto lugar, com 4.12,12.
Na meia-final, curiosamente com as mesmas três medalhadas, Carla Sacramento também não teve que dar tudo. A austríaca Kiesl comandou a prova em andamento razoável (66,17 aos 400 m, 2.15,67 aos 800 m) mas, a uma volta do fim, ainda estavam juntas 11 das 12 concorrentes. Carla Sacramento afastou-se da corda, subiu ao terceiro lugar a 200 metros do fim e, à entrada da reta final, tinha já o apuramento praticamente garantido, em 4.10,03, a seguir a Boulmerka (4.09,13) e Holmes (4.09,15). Como na final…
CARLA HÁ CINCO ANOS, AGORA E NO FUTURO
HÁ CINCO ANOS – “Quando, há cinco anos, regressei do “Mundial” de Juniores, na Bulgária, muito triste, com dois quartos lugares em 800 e 1.500 metros, o meu treinador confortou-me, dizendo que eu teria muito tempo para ganhar medalhas. A de hoje é a mais importante e eu tinha quatro minutos para demonstrar aquilo que preparei em dez anos”.
AGORA – “Eu estava muito determinada, nunca me intimidei com as adversárias, apesar de elas terem tempos superiores ao meu”.
O FUTURO – “Espero que esta medalha seja um incentivo para as jovens meio-fundistas curtos de Portugal. Dedico-lhes esta medalha. Seria bom que, tal como eu e outros, tivemos como ídolos Carlos Lopes e Rosa Mota, do meio-fundo longo, passe a haver também ídolos em meio-fundo curto. E eu gostaria de o ser, para ajudar a que estas especialidades continuem a progredir”.
1.500 METROS (9-8)
- Hassiba Boulmerka (ARG) 4.02,42
- Kelly Holmes (GBR) 4.03,04
- Carla Sacramento (POR) 4.03,79
- Angela Chalmers (CAN) 4.04,74
- Lyudmila Borisova (RUS) 4.04,78
- Anna Brzezinska (POL) 4.04,78
- Ruth Wysocki (EUA) 4.07,08
- Mayte Zuniga (ESP) 4.07,27
- Lyudmila Rogachova (RUS) 4.07,83
- Yvonne Graham (JAM) 4.08,01
- Margarita Maruseva (RUS) 4.11,64
- Malgorzata Rydz (POL) 4.20,83